segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Bola Parada – Triste história, triste final.


Por
Otto Herok Netto, de Porto Alegre
e Breno Marcos Rossi, de São Paulo



Tarde de domingo – 02/12/2007

Rio Grande do Sul

Ontem foi um dia quente em Porto Alegre. Não apenas pela temperatura que beirou os 35 graus, mas pelas emoções escaldantes presenciadas no estádio Olímpico e ouvidas através do radinho de pilha vindas lá de Goiânia. O Grêmio recebeu o Corinthians diante de 37 mil eufóricos torcedores que ainda sonhavam com a vaga na Libertadores. Já o Timão trouxe pouco mais de três mil solidários na busca por permanecer na elite do futebol brasileiro.

São Paulo

Grande parte dos 30 milhões de corações angustiados estava na capital paulista, espalhados pela cidade, com o símbolo alvinegro estampado no peito e na alma, na esperança de permanecer na elite do futebol. Uma vitória bastaria.Em qualquer lugar que a vista alcançasse, uma matilha de corintianos era rapidamente identificada. Em um bar, um restaurante, na casa de alguém, dentro de um carro com o rádio ligado. Todos juntos em um só pensamento.
Era uma final de Copa do mundo...

Rio Grande do Sul

O jogo começa. O tricolor gaúcho parte pra cima nos primeiros minutos. Abre o placar logo de cara com Jonas, que cabeceia uma bola cruzada por Bustos. Esse resultado garantia a equipe a vaga na libertadores. Durou apenas um minuto o sonho tricolor, pois em Belo Horizonte o Cruzeiro começava a despachar o já rebaixado América-RN.

São Paulo

Um minuto de jogo. Teve corintiano que nem conseguiu se ajeitar direito nas cadeiras da vida. Jonas cabeceia e abre o placar para o time gaúcho. A animação inicial pelas ruas dá lugar a um silêncio fulminante.
Era o Corinthians na Série B.

Rio Grande do Sul

Ao saberem do resultado em campo, os jogadores do Grêmio naturalmente desistiram de jogar. O Corinthians via o jogo facilitar a seu favor, pois em Goiás o time da casa sofrera o primeiro gol do Internacional.

São Paulo

O silêncio na capital paulista foi interrompido por um estrondo. Gol do Corinthians? Não. Gol do Internacional.
Era o Corinthians voltando para a Série A.

Rio Grande do Sul

A fragilidade do time corintiano não permitiu que esse criasse boas oportunidades de marcar. De Lulinha pode-se esperar tudo, menos gol. O garoto corre, dá toquinhos na bola, mas não é nada objetivo. Aos 30 minutos de jogo o Olímpico explode. Gol do Goiás em Goiânia. A vibração dos gaúchos não durou mais que 30 segundos, pois Carlos Alberto recebeu passe preciso de Vampeta, cruzou para a pequena aérea e Clodoaldo mandou pras redes. Por 30 segundos o Corinthians esteve na série B e voltou.

São Paulo

Nenhum jogo parecia importar. Ninguém queria saber se o Palmeiras estava empatando, se o Santos tomava um sufoco do Fluminense, se o São Paulo ganhava ou perdia do Atlético-PR. Todos os olhos estavam voltados para o Corinthians. Contra ou a favor do seu rebaixamento.
O Goiás empata o jogo no Serra Dourada. O Corintiano volta a se calar. Em um bar próximo, até o garçom são paulino parou de servir a cerveja para ver o gol do time goiano na televisão. Os corintianos abaixavam a cabeça e ameaçavam xingar ou chorar.
Ameaçavam, pois nem deu tempo do garçom voltar ao serviço. Clodoaldo empata o jogo, para a euforia corintiana.
Era o Corinthians na Série B, e menos de um minuto depois, de volta a Série A.

Rio Grande do Sul

No segundo tempo, o Grêmio não voltou muito diferente do primeiro. Estava a não jogar, desmotivado com o resultado do Cruzeiro, mas mesmo assim foi quem mais esteve perto de marcar o segundo gol. Em Goiânia, o Goiás empilhava chances desperdiçadas de gol. Era brava, porém improdutiva a luta corintiana para continuar na primeira divisão. Este talvez seja o pior time da história do clube. Salvou-se o goleiro Felipe que evitou mais uma goleada em Porto Alegre.
Quando as rádios anunciaram penalidade máxima para o Goiás o Olímpico novamente explodiu. Era o rebaixamento corintiano se concretizando. Paulo Baier errou. O juiz mandou voltar. Paulo Baier de novo para a cobrança e...errou de novo. Mas o juiz mandou voltar novamente. O goleiro colorado Clemer havia se adiantado nas duas cobranças. Até que Elson mandou a bola pro fundo da rede em Goiás e fez Porto Alegre vibrar. Colorados comemoravam o gol sofrido pelo seu time com o doce sabor da vingança nos lábios.
Dizem que ela é um prato que se come frio, para os colorados foi como um banquete.

São Paulo

Pouco se falou no intervalo da partida. Algumas reclamações em cima do esquema tático adotado por Nelsinho, outros lembravam Dualib, alguns ressuscitaram até Kia.
Mas o momento era tenso, e a torcida alvinegra se uniu em prol do bem corintiano. Aquele não era a hora para cobranças... Ainda.
O segundo tempo começa em Porto Alegre e no Sul, e o fiel torcedor não sabia para onde olhar primeiro.
Mas foi forçado a desviar suas atenções ao estádio Serra Dourada, pois o aviso veio como uma faca sendo cravada no coração já fragilizado do torcedor. Pênalti marcado a favor do Goiás.
O garçom parou novamente, o torcedor mal respirava, até o táxi que passava pela rua encostou para ouvir aquele momento, que pareceu durar horas, ao invés de minutos. Paulo Baier ajeita a bola, corre e chuta no canto direito. Clemer rebate. O bar, os carros, a casa cercada de branco e preto, tudo desaba de alegria. Mas o bandeira manda voltar. O fantasma do rebaixameno e dos pênaltis perdidos começa a assombrar Paulo Baier. Ele já havia desperdiçado uma penalidade contra o Corinthians, e errado de novo contra o Internacional, não poderia mais falhar. Paulo Baier ajeita novamente, corre e chuta no canto esquerdo. Clemer rebate. O bar, os carros, a casa cercada de branco e preto, tudo desaba de alegria. Mas o bandeira manda voltar... de novo.
Palavras jamais proferidas antes são direcionadas para o árbitro, por todos os torcedores que assistiam aquele jogo, de cada local de São Paulo. Paulo Baier enfim desiste. Élson pega a bola e ajeita. Chuta no canto e faz o gol.
Era o Corinthians de volta a Série B.

Rio Grande do Sul

O timão ainda tentou reagir, mas sua falta de qualidade não o deixava aspirar algo melhor até o apito final do árbitro. Mesmo com o Grêmio em marcha lenta, o timão foi chutar a primeira bola a gol no segundo tempo aos 48 minutos. Fim de jogo e fim de linha para a Mercedes corintiana na série A. Rebaixados os jogadores correram para o vestiário chorando. Poucos deram entrevistas. Apenas Felipe falou. Mas naquela altura nada mais adiantava.

São Paulo

Final de jogo.
Alguns não se mexem, desacreditando no que viam.
Alguns choravam como crianças abandonadas.
Alguns levantaram, e sem dizer uma palavra, deixaram os locais em que tentaram empurrar o time à distância.
Alguns consolavam o amigo.
Alguns simplesmente deitaram no meio da rua, na esperança de serem levados embora dessa triste existência.
Entre idas e vindas, alegrias e tristezas, durante 2 horas, contando com todos os resultados, o Corinthians ficou mesmo na Série B.




O clube de 30 milhões de torcedores vai jogar a segunda divisão ano que vem, não por culpa do árbitro que mandou voltar corretamente os pênaltis em Goiânia, mas sim de seus antigos e atuais dirigentes que mal administraram o clube e o afundaram com parcerias desastrosas. Já o Goiás, fica na primeira divisão mais um ano. A dupla Grenal sai de férias triste por não ter feito um Brasileirão melhor, mas com seus torcedores comemorando a desgraça alheia.