Por Otto Herok Netto
Se alguém desembarcar hoje no Aeroporto Salgado Filho ou na rodoviária de Porto Alegre, vai perceber algo estranho no ar.
O Rio Grande do Sul é tradicionalmente uma província dividida ao meio: Maragatos e Ximangos, peemedebistas e petistas, colorados e gremistas. Mas nesta semana, mais precisamente a partir da última quarta-feira à noite, algo está fora de ordem em Porto Alegre.
Gremistas estão torcendo pelo Inter e colorados estão depositando suas esperanças no Grêmio. Para quem possuí, talvez, a maior rivalidade clubistica do país é quase uma heresia torcer tão descaradamente em favor do maior rival. A polêmica ultrapassou os limites do torcedor comum e foi parar na imprensa que destaca a todo o momento esta “inversão de valores”.
A verdade é que essa maluquice toda tem um motivo: Rebaixar o todo poderoso Corinthians.
Virou questão de honra para os gaúchos martelar o último prego no caixão corintiano rumo a segundona. Neste domingo, o Grêmio ainda sonha com uma vaga a libertadores e precisa derrotar o timão no estádio Olímpico. Só isso já seria motivo de sobra para o tricolor da Azenha não aliviar na partida. Junte a isso, a despedida do técnico Mano Menezes, um estádio lotado exigindo vitória, uma rivalidade histórica contra times paulistas e a declaração do presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, chamando o Grêmio de “antigo devedor” do clube. Como os próprios gremistas já sentiram na pele a dureza da série B, nada mais natural do que desejar que outro clube grande também passe esse período no “inferno”.
Mas eles não estão sozinhos nesta missão.
Os colorados são motivados por vingança. Não esquecem o título que lhes foi roubado no tapetão e no apito em 2005. No tribunal por Luiz Zveiter, que anulou aqueles 11 jogos, e no apito por Márcio Rezende de Freitas no Pacaembu quando Tinga sofreu um pênalti claro e o árbitro acabou expulsando-o. Colorado nenhum esquece a declaração do atual presidente corintiano Andrés Sanchez na época: “O Corinthians é uma Mercedes e os outros são um fusquinha”.
Por isso mesmo que os torcedores do Internacional querem tanto que o seu arqui-rival afunde o timão neste domingo e quase imploram para seus próprios jogadores entregarem o jogo contra o Goiás, salvando a pele dos goianos. Fernandão, principal ídolo colorado, é filho ilustre de Goiânia e assumido torcedor do Goiás.
O cenário está pronto.
A imprensa de todo o país está em Porto Alegre e não é por causa da seleção brasileira.
Mais de 60 jornalistas vindos do centro do Brasil cobriram os treinos do Corinthians na sexta-feira e no sábado pela manhã. Do outro lado, as torcidas de Grêmio e Inter estão mobilizadas como poucas vezes vimos na história do futebol gaúcho. Tudo porque a antipatia pelo Corinthians e a satisfação de ver um clube idolatrado pela mídia do eixo Rio-São Paulo cair para a segunda divisão do futebol brasileiro pode adormecer eternas rivalidades.
Mas só até segunda-feira.